Publicado em 27/09/2014

A primeira ficção na programação da Première Brasil deste ano, O fim e os meios, de Murilo Salles, foi seguida de um debate inspirador no Cine Encontro desta sexta-feira, 26, no Armazém da Utopia. A conversa foi mediada por Susana Schild, jornalista, crítica de cinema e roteirista, que começou sua fala destacando a característica de Salles de transitar com muita fluidez entre o real e a ficção, de uma forma autoral e atenta ao que acontece ao seu redor. A produção em questão, por exemplo, conta a história de Cris (Cintia Rosa) e Paulo (Pedro Bricio), um casal que vai trabalhar em Brasília e que pouco a pouco se vê envolvido em uma trama de relações políticas e sociais que os põem em conflito com sua própria consciência.

A atualidade do tema, apontada pelo público e pelos presentes na mesa, rendeu opiniões e trocas interessadas. O diretor disse que a ideia desse filme surgiu de seu mal-estar com o estado das coisas no país, com a situação das instituições, da política e da população brasileiras. Ele ressaltou que todos os seus filmes são sobre o Brasil, e que essa vontade de mostrar o país assim, de maneira exposta, vem de suas convicções sobre a função do cinema e da arte de trazer novas questões e de devolvê-las ao espectador, sem solucioná-las.

A produtora Julia Moraes indicou que O fim e os meios é sobretudo um filme sobre a identidade brasileira e sobre as contradições do ser humano. Falou ainda sobre a necessidade de fazer com que o indivíduo, principalmente o brasileiro, não tenha vergonha de se olhar e se enxergar, de encarar seus defeitos, suas dúvidas morais e seus próprios erros. Amanda Manolio, também produtora, concluiu com Moraes que o interesse em O fim e os meios era mostrar o lado humano da política, mostrar que quem está no Congresso são pessoas, com família e subjetividade, e como as questões de corrupção e de ética estão enraizadas em detalhes do cotidiano de todos, em pequenas decisões e gestos.

Marco Antonio Marcondes, o distribuidor, sublinhou a qualidade da cinematografia do filme, com planos e enquadramentos sutis, com uma montagem elegante e rara. "O Murilo é um diretor fora da curva do cinema brasileiro", observou Marcondes.

Questionado sobre o processo de produção do filme, Murilo Salles revelou sua indignação com relação aos problemas de demora do Fundo Setorial do Audiovisual no auxílio aos projetos contemplados por editais. Apontou, porém, a enorme transformação nas circunstâncias do cinema brasileiro: "As condições de fazer cinema melhoraram muito, no sentido de que agora tem alternativa. Hoje em dia o cinema jovem brasileiro está aparecendo com toda força, há os polos espalhados pelo país, o polo cearense, o polo mineiro, o gaúcho… Antes não tinha essa possibilidade. Agora é outro papo, as câmeras, os processos, tudo simplificou”.

O realizador declarou-se feliz com o resultado de seu trabalho, e disse que espera lançar O fim e os meios em abril de 2015.

 

Texto: Juliana Shimada

Fotos: Luiza Andrade




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