Publicado em 12/10/2016

A paternidade foi um dos temas discutidos no Cine Encontro desta quarta-feira, 12 de outubro, em mesa-redonda em torno do filme O filho eterno. Baseado no romance homônimo de Cristóvão Tezza e ambientado nas décadas de 1980 e 1990, o longa narra a relação de Roberto (Marcos Veras) e seu filho Fabrício, portador da síndrome de Down. Dirigido por Paulo Machline, de Natimorto e Trinta, a obra participa da seleção competitiva do Festival do Rio deste ano, concorrendo ao Troféu Redentor.

O mediador da conversa, Ricardo Cota, diretor da Cinemateca do MAM, iniciou os trabalhos parabenizando a equipe e pedindo que Machline contasse como entrou em contato com a história. O cineasta informou que foi convidado pelo produtor Rodrigo Teixeira, que havia adquirido os direitos do livro, para assumir a direção do projeto e adentrar um ambiente com o qual ele ainda não havia se familiarizado. Ressaltando a importância do processo de pesquisa, que contactou instituições como a APAE e foi ao encontro de famílias de pessoas com síndrome de Down, o diretor falou da mudança de visão com relação a essa forma de deficiência nas últimas décadas. Dizendo ter aprendido muito com a empreitada, Machline ponderou: “Uma outra forma de fazer cinema é mergulhar profundamente num universo que você desconhece”.

A seguir, Rodrigo Teixeira destacou a longevidade da sua relação profissional com o realizador, que já dura 19 anos, e explicou tê-lo indicado para dirigir o material por conta da sua postura audaciosa. “O Paulo é corajoso demais, a gente dá a ele desafios complicados e ele entra de cabeça”, elogiou. O produtor e o roteirista Leonardo Levis definiram o livro de Tezza como bastante difícil de adaptar, uma vez que se trata de um monólogo interior com tintas autobiográficas. A esse respeito, Levis confessou que uma das maiores dificuldades para compor o roteiro foi estruturar o romance em sequências, mas revelou que o autor do livro gostou do resultado. O produtor executivo Raphael Mesquita completou, enaltecendo a generosidade de Tezza, que visitou o set e esteve próximo durante essa fase, mas concedeu à equipe toda a liberdade criativa necessária, tendo inclusive se recusado a ler o roteiro.

O elenco falou sobre o processo de construção dos personagens. Marcos Veras frisou sua preocupação em humanizar o protagonista, de forma que ele não fosse percebido apenas como um vilão, e discutir de forma sincera a paternidade. “Eu não sou pai, mas esse filme mexeu com emoções que eu nem sabia que existiam”, declarou. O ator prestigiou seus colegas de elenco, em especial Pedro Vinícius, o menino que interpreta seu filho na trama, e que segundo ele conquistou a todos imediatamente. O protagonista também agradeceu vivamente a Debora Falabella, que dá vida à Claudia, sua esposa, destacando a grande parceria que construiu com a atriz. Falabella retribuiu o carinho e revelou seu apreço pelo longa: “Foi muito tocante fazer esse filme, tenho uma relação afetiva com ele”. Ao lado dos seus pais da ficção, Pedro se disse feliz com o trabalho e por ter se visto na telona do cinema.

Rodrigo Teixeira discutiu ainda o cenário de distribuição de filmes nacionais, assim como os muitos obstáculos do mercado cinematográfico no Brasil. O produtor disse acreditar que é necessário construir e cultivar um público para o cinema nacional, que ainda permanece relegado a um nicho muito estreito de exibição. Aplaudido pela plateia entusiasmada, Teixeira asseverou: “É preciso fazer com que as pessoas entendam que cinema brasileiro não é um gênero”.

Ao fim, alguns membros comovidos da APAE-Rio expressaram seu agradecimento pela representação do drama dos familiares dos portadores da síndrome de Down, elogiando fervorosamente o filme, que estreia no dia primeiro de dezembro, e torcendo para que ele possa vir a ser uma ferramenta importante de conscientização.

Texto: Maria Caú

Fotos: Pedro Ramalho




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