A Hora do Orvalho: diretor revela como o filme aborda sua relação com o pai — o grande cineasta Dino Risi Marco Risi faz um bonito filme sobre conflitos geracionais, a vida ao lado de seu pai e as últimas palavras que ele escreveu antes de morrer.
A Hora do Orvalho, de Marco Risi
Por Rodrigo Torres
Uma coisa curiosa aconteceu no último domingo, no Estação NET Botafogo, no final da sessão lotada do longa-metragem A Hora do Orvalho (Il Punto di Rugiada). Em cena, o protagonista Carlo vivia seu momento de maior emoção no filme vestindo um paletó azul escuro e calça de cor marfim. Nesse exato momento, o diretor Marco Risi entrou na sala com uma roupa muito parecida: seu paletó era azul escuro, sua calça era marfim.
Ao observar essa coincidência, Marco sorriu. Depois, confirmou que a relação entre o jovem Carlo (Alessandro Fella) e o idoso Dino (Massimo De Francovich) espelha a relação que tinha com seu pai — o grande diretor italiano Dino Risi, do clássico Aquele Que Sabe Viver (Il Sorpasso, 1962).
Marco Risi entre Ilda Santiago, a tradutora Laura Pechman e a atriz Lucia Rossi na sessão de gala de A Hora do Orvalho — Foto: Rogerio Resende/Festival do Rio 2024
“Sim… Totalmente! Há um grande diálogo com a nossa relação. Esse filme deriva de um livro que eu escrevi sobre a relação que eu tive com o meu pai, intitulado “Forte respiro rápido”, que foram as últimas palavras que ele escreveu em seu diário antes de morrer: ‘Forte. Respiro. Rápido.’ Era essa a sensação que ele tinha nos dias que antecederam a sua morte”, conta Marco, em um relato que denota a intimidade e a sensibilidade que permeiam todo o filme A Hora do Orvalho.
“Após escrever esse livro sobre a sua morte, em 2008, eu entendi que, finalmente, eu poderia fazer o filme que queria — uma história entre duas gerações muito distantes: os velhos e os jovens. Sobretudo, sobre um velho, que se chama Dino; e um jovem, que se chama Carlo. Por que não dei a ele o nome de Marco? Por pudor”, disse Marco, fazendo a pergunta e respondendo ele próprio, numa mostra de seu bom humor.
A Hora do Orvalho, de Marco Risi
A Hora do Orvalho é, portanto, o filme mais pessoal da obra de Marco Risi. Os personagens têm muito de seu pai e dele próprio, assim como as cenas mais impactantes do longa-metragem – como aquela bonita sequência num dia de neve, no Natal — refletem a vida deles dois. A partir desse encontro, e desse choque entre pai e filho, velhice e juventude, nasce o título do longa-metragem, explicado pelo diretor:
“O ponto de orvalho é quando o vapor de água entra em contato com o frio e se transforma. Neste caso, serve como metáfora para o encontro entre duas temperaturas totalmente diferentes: o quente e o frio. No início, os velhos representam o calor, os jovens representam o frio. Gradativamente, essas duas temperaturas vão se fundindo, até que, em uma cena mágica na neve, em que jovens e velhos brincam como crianças, essas duas temperaturas se encontram.”
A Hora do Orvalho, de Marco Risi
Para compreender essa cena “mágica” e descobrir, no final do filme, um diálogo emocionante entre Dino e Carlo (que ocorreu na vida real, de forma muito semelhante, entre Dino e Marco), você precisa conferir A Hora do Orvalho, em uma das sessões abaixo. O diretor Marco Risi e a atriz Lucia Rossi vão apresentar o filme nesta quarta-feira, às 21 horas, no Reserva Cultural Niterói.
QUA (09/10) 21:00 Reserva Cultural Niterói 3*
SÁB (12/10) 21:30 Estação NET Gávea 4
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