Publicado em 06/10/2024

A Herança, de João Cândido Zacharias
A Herança, de João Cândido Zacharias

Em 80 minutos, o diretor João Cândido Zacharias transportou uma sala lotada de espectadores no Estação Net Botafogo para um mundo sobrenatural ambientado em uma fazenda no interior. A estreia de A Herança, longa que mescla terror com melodrama em uma mistura que só poderia ser feita com maestria no Brasil, foi acompanhada por toda a equipe e elenco da obra durante o Festival do Rio na noite do sábado (5). A sessão faz parte da mostra Midnight Movies.

A trama acompanha Thomas (Diego Montez), um jovem brasileiro que mora na Alemanha com o namorado, Beni (Yohan Levy). Quando o protagonista recebe a notícia da morte da mãe, os dois viajam para o Brasil para o funeral. No cemitério, a antiga patroa da mãe, a dra. Malta (Ana Carbatti)  — ou Vera, como insiste em ser chamada — revela que a mãe deixou para ele uma casa, administrada por tias que nunca conheceu. Ela se oferece para levá-los até lá e é a partir daí que a trama se desenrola.

O encontro de Thomas e Beni com as tias, Vitória (Analu Prestes) e Berta (Cristina Pereira) inicialmente é acolhedor e confortável. O jovem fica tocado pela emoção das duas ao revê-lo e percebe o amor na voz delas quando contam que ele nasceu naquela casa. Ele começa a conhecer mais sobre sua mãe e também sobre si, e resolve passar uns dias a mais na fazenda até decidir o que fazer com ela.

A Herança, de João Cândido Zacharias
A Herança, de João Cândido Zacharias

Para o ator Diego Montez, embora o longa seja estruturado com a fórmula de terror, a história vai além disso. “Quando você ouve a história desse filme, pode dizer que já ouviu isso antes, mas essa você ainda não viu. É um filme muito voltado para a essência dos personagens. Todas as coisas que a gente coloca como lombada, um filme queer, um filme de terror, tudo isso vai se diluindo por conta da história dos personagens”, analisa.

Ao longo dos dias, Thomas e Beni passam a explorar a casa e deparam com situações cada vez mais bizarras. O brasileiro se depara com a presença da avó e descobre que ele é a criança escolhida para trazê-la de volta à vida. Beni percebe uma marca estranha no pescoço das tias e descobre o plano das duas. Já dominado pela macabra tradição familiar, Thomas se recusa a ir embora quando o namorado pede ajuda de dra. Malta e tenta deixar a fazenda. Tanto as sequências que contribuem para o aumento da tensão durante o longa quanto os minutos finais se desenrolam com impecáveis efeitos práticos e digitais e uma trilha sonora que amarra toda a atmosfera perturbadora.

“Eu sou muito fã de filme de terror, então sempre quis trabalhar nesse gênero. E aqui no Brasil isso não é uma questão óbvia, a gente não faz muito isso, estamos começando agora. Quando eu comecei o projeto há 10 anos, era ainda mais raro. Sempre quis fazer um terror puro e duro, que é o que esse filme é”, conta o diretor. 

A Herança, de João Cândido Zacharias
A Herança, de João Cândido Zacharias

Ele explica que o projeto começou em 2014, em parceria com a produtora Tatiana Leite. Desde o início, ele sempre quis que o longa fosse apresentado no Festival do Rio, onde já trabalhou. Uma década depois da ideia embrionária, ele fala sobre a expectativa para saber como será a recepção pelo público.

“Fico muito feliz de fazer a estreia aqui, sou frequentador do Festival desde antes de ele ter esse nome e já trabalhei aqui, é a minha casa. Lembro que a primeira vez que eu vim nesse cinema foi aos 10 anos de idade, minha tia me trouxe para assistir Eu Estive Em Marte. Essa sessão é com boa parte da equipe e do elenco e estou na expectativa de que todos gostem”, conta João, antes da sessão. “Acho que eles vão gostar, porque mostra o talento de todos os envolvidos”.


Elenco e equipe foram convidados pelo diretor, João Cândido Zacharias (centro) para apresentar o longa A Herança no Festival do Rio 2024 - Rogerio Resende/Festival do Rio

Elemento central da trama, a relação de Thomas e Beni rompe um estereótipo presente nos filmes de terror. Para o diretor, a trama girar em torno de dois personagens gays traz uma renovação para o gênero, e ele acredita que o público deve receber bem os personagens. 

“O cinema, de um modo geral, reflete um pouco a sociedade, e a gente está em um momento que essa questão não é tão fácil de lidar. Mas o público do terror e do cinema de gênero é muito cabeça aberta, e isso é bom, mas por outro lado, é um pouco raro ver protagonistas queer nesses filmes. Hoje em dia a gente até vê como coadjuvante, interpretando o amigo do protagonista, mas não protagonizando. A questão é começar a fazer, e acho que o público do cinema de gênero vai lidar bem, sem questão”, conclui.

A Herança, de João Cândido Zacharias
A Herança, de João Cândido Zacharias

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