A FABULAÇÃO NAS TELAS DENTRO DA TELONA: "O NASCIMENTO DE HELENA" + "O MELHOR LUGAR DO MUNDO É AGORA" Ousadias distintas e formatos igualmente não-tradicionais no segundo dia de Première Brasil
A tarde de debates da Première Brasil foi aberta neste domingo, 12/12, com mesa mediada pela professora de cinema Denise Lopes e composta por Rodrigo Almeida, diretor do curta O nascimento de Helena, e o time do longa-metragem O melhor lugar do mundo é agora: o diretor Caco Ciocler e os atores Eduardo Estrela, Márcio Vito e Lorena da Silva.
Rodrigo está em seu terceiro curta como diretor, Caco em seu terceiro longa atrás das câmeras, e ambos os trabalhos confundem espectadores em busca da "verdade" e fogem do formato padrão cinematográfico. Um é todo em imagens verticais capturadas com celular e o outro é composto majoritariamente por telas de conversas virtuais.
O diretor do curta-metragem conta que desde 2017 vem usando o celular como dispositivo de criação artística e gerou o filme unindo vídeos que postou nos Stories do Instagram e a narração de um texto antigo de sua autoria. Com ares de relato íntimo compartilhado por áudio do WhatsApp, a produção tem relação com a irritação de Rodrigo com a perfeição, bondade e extrema lisura do personagem gay em filmes que ele chama de "fofinhos", numa ideia conservadora e desumanizadora de que "apesar de ser gay, ele é super legal". O nascimento de Helena é experimentação com desejo de se arriscar.
O WhatsApp também é importante no projeto de Caco Ciocler, porque foi através de áudios personalizados que ele compartilhou o conceito com seus atores-colaboradores, que a partir disso criaram seus próprios personagens - com exceção de Claudia Missura, que reencenou um texto específico à pedido do diretor. O cineasta revela que, assim como seu longa anterior, Partida, O melhor lugar do mundo é agora surgiu como reação a um trauma, no caso o isolamento do pior momento da pandemia. Somou-se a isso o discurso de inspiração nazista do então secretário especial da Cultura falando em libertação dos artistas, o que levou Ciocler a questionar onde os artistas estariam presos e idealizar os "campos de desconcentração". No que se refere à linguagem adotada, ele explica que era a única possível e também uma crítica à afirmação de Jair Bolsonaro de que as pessoas devem produzir filmes usando o dinheiro que têm.
Os atores se mostraram ainda bastante impactados pelo contato com o resultado coletivo na telona. Márcio Vito diz que ainda está entendendo o filme; Lorena da Silva lembra o ato de se jogar no escuro pelo desejo de fabricar alguma coisa para algo que nem Caco sabia exatamente o que ao contatar o elenco; e Eduardo Estrela questiona o que é realidade e o que é ficcional no absurdo que estamos vivendo e destaca aquela que considera a grande frase do longa-metragem: "como algo que não serve para nada nos pega tanto?".
Texto: Taiani MendesFoto: Frederico Arruda
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