Publicado em 09/10/2016

Um entusiasmado público encheu o Odeon nesta tarde de domingo para assistir a Redemoinho, primeiro longa-metragem de José Luiz Villamarim, que concorre na competição oficial pelo Troféu Redentor. A sessão foi seguida por um debate com mesa cheia, mediado pelo jornalista e crítico de cinema Luiz Carlos Merten.

Merten iniciou a conversa derramando-se em elogios ao filme, baseado na obra literária de Luiz Rufatto O mundo inimigo – Inferno provisório vol. II, e revelando que a ideia inicial dos realizadores era adaptar outro trabalho do escritor. Villamarim contou que, ao ser contactado, o próprio Rufatto sugeriu a troca para o segundo volume da trilogia Inferno provisório. Sobre o processo de adaptação, o roteirista George Moura explicou que a estrutura do material original o obrigou a fazer diversas alterações, num trabalho que se deu em dois movimentos, primeiro mergulhando e apaixonando-se pela obra, depois se distanciando e se libertando dela.

A fotografia do filme, assinada por Walter Carvalho, dominou a conversa a seguir, com Carvalho explicando a importância dos enquadramentos, dos movimentos de câmera e do foco − muitas vezes impostos pelas vigas, colunas e amarras em geral da arquitetura dos cenários − na tarefa de guiar a tensão do filme, de puxar, empurrar e aprisionar seus personagens com crescente intensidade. Villamarim acrescentou que seu desejo era conter toda a ação de cada cena em um único plano, e o montador Quito Ribeiro completou, explicando que a grande característica de sua “montagem invisível” foi o respeito e a fidelidade ao rigor do material filmado.

Em seguida, os atores Julio Andrade e Démick Lopes discorreram sobre seus métodos de atuação. Andrade teceu calorosos elogios à equipe, explicando que gosta de trabalhar “junto da galera”, com gente próxima para ver, torcer e participar. E acrescentou que, apesar das diferenças entre o seu processo e o método mais imersivo de Irandhir Santos, com quem divide o protagonismo do filme, a química com o colega foi agradável e certeira. “O Irandhir é um gênio!”, declarou. Já Lopes, responsável por dar vida ao enlouquecido e alienado Zunga, contou que, ao visitar Cataguases, onde se passa a obra, pôde ver vários Zungas pelas ruas, e que a observação desses homens o ajudou a compor seu personagem. Moura acrescentou que o verdadeiro Zunga, que chegou a conhecer na vida real, é muito diferente daquele que o filme mostra, tendo ganhado diversas novas camadas ao longo do processo de realização de Redemoinho.

A produtora Vania Catani, por sua vez, falou sobre sua paixão por investir em filmes autorais de diretores estreantes, e trazer novidade e frescor ao cinema nacional. E afirmou que, apesar da longa trajetória na televisão, Villamarim também é um desses novos diretores. Bem humorada, ela brincou: “A partir de agora, eu sempre vou poder dizer que a primeira vez do Zé foi comigo”.

Texto: Clara Ferrer

Fotos: Pedro Ramalho




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