Publicado em 12/12/2019

O segundo debate do dia 11/12 foi sobre o documentário Sem Descanso, de Bernard Attal, e contou com a presença do diretor, da produtora Gel Santana, da roteirista Fabíola Aquino e do personagem do filme Jurandy. O documentário trata da busca de Jurandy pelo paradeiro de seu filho Geovane, desaparecido em 2014 em Salvador, sendo apoiado pelo jornal local, e acaba tocando em uma questão crucial da sociedade brasileira: a truculência policial. 

O debate foi mediado pelo jornalista Chico Otávio, que abriu falando sobre o papel da imprensa, fundamental no caso de Geovane. Bernard contou que a ideia de fazer o documentário nasceu justamente dos jornais, pois ele acompanhava o caso do rapaz desaparecido. Ele queria entender como estava Jurandy e sua família, que além de tentar entender o que houve com Geovane, tinham de lidar com reações e boatos em torno do filho. 

Como o caso está diretamente ligado à violência policial, Bernard também queria entender as origens destas questão, de modo que o filme, além de acompanhar o drama familiar, conta com uma pesquisa antropológica e sociológica sobre o assunto, como apontou Fabíola. Bernard também notava necessidade de falar dessa realidade brasileira que foge ao imaginário da democracia racial e da cordialidade. 

Segundo Fabíola, o filme foi feito sob o mantra: “vamos pôr medo no medo”. Chico, em seguida, indagou sob os riscos de se fazer um filme que se aprofunda na questão da truculência policial. A produtora Gel, oriunda de uma comunidade pobre próxima de onde mora Jurandy, disse que sabe como a polícia trata quem mora pela região. Portanto, foi necessária certa cautela em não expor nem a equipe, nem sua própria família: ninguém podia andar só e havia um cuidado mútuo. Bernard contou ainda que a equipe procurou falar com a polícia, mas, infelizmente, eles desmarcaram todos os encontros.

O filme todo acompanha a visão de um pai que perdeu o filho, e não de uma mãe, como costuma-se ver. Há, porém, um momento em que quatro mães falam sobre seus filhos assassinados. Para Gel, aquelas mulheres representam diversas mães que também perdem seus filhos diariamente. Diante dessa infeliz realidade brasileira, a equipe considera que não poderiam deixar de fora o sofrimento dessas mães. 

Para fechar o debate, Chico perguntou a Jurandy se ele se sente frustrado ou arrependido; o pai respondeu que faria tudo de novo e declarou: “eu não tenho medo de ser ameaçado, morto, eu ando de cabeça erguida. Eu fiz o meu papel de pai. Enquanto estiver vivo, vou lutar nessa causa pelos meus direitos”.

Por: Marina Martins

Foto: Mariana Franco




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