Publicado em 17/12/2021


Em mais um dia de Première Brasil, o debate foi entre a diretora de A viagem de Pedro, Laís Bodanzky, e o crítico de cinema Luiz Carlos Merten, com participação de um dos atores do grandioso elenco internacional da trama, o britânico Geoffrey Russell.

Laís subiu ao palco do Estação NET Botafogo na tarde de quinta-feira, 16/12, animada para "contar um pouquinho da aventura que foi fazer o filme" e começa comentando que descobriu na pesquisa o descompasso entre a imagem de Dom Pedro I aqui no Brasil - onde é ridicularizado e visto como fanfarrão - e em Portugal, onde ficou eternizado como herói clássico e é conhecido como Pedro IV. A diretora explica que o projeto leva o nome do protagonista desde o início e seu interesse sempre foi contar a história daquela pessoa trágica, mostrar suas sombras, buscar entender suas motivações e não fazer uma biografia dentro do padrão tradicional. A viagem entre o Brasil e a Europa se apresentou como lugar ideal, entre outras razões, por ser uma "lacuna histórica", sem registro conhecido dos eventos ocorridos a bordo.

A cineasta revela que as cenas externas foram gravadas no navio da Marinha do Brasil Cisne Branco, durante uma jornada de cinco dias entre Salvador e Niterói - que incluiu uma terrível tempestade. Geoffrey menciona que a embarcação foi construída pensando em velocidade, não conforto, e por isso balançava muito, o que afetou o bem estar de boa parte da equipe. As cenas de interior foram feitas em estúdio montado com base num barco antigo que se encontra ancorado e disponível para visitação em Lisboa. Como essa parte foi posterior à viagem, os atores já tinham a referência do gestual necessário para a movimentação desequilibrada em alto mar nos apertados corredores.

Sobre a relação com Cauã Reymond, protagonista e produtor do longa-metragem, Bodanzky diz que partiu do ator o desejo de fazer algo sobre Dom Pedro e a ela chegou o convite para dirigir. Estar presa a um personagem principal que não é fácil de se gostar não foi tarefa fácil, afirma Laís, que assumiu a autoria do roteiro ao perceber que o desafiante filme deveria ser muito pessoal.

Russell observa que ouviu de Cauã que Laís foi sua escolha para conduzir A viagem de Pedro por conta da sensibilidade e capacidade de criar um ambiente confortável mesmo abordando temas difíceis, com dolorosas questões raciais, multiétnicas, violentas, históricas e de memória envolvidas, e ainda numa espécie de confinamento. Ele lembra a magia de várias pessoas falantes de idiomas distintos ensaiando juntas e se entendendo, enquanto Laís ressalta que queria reproduzir as diferenças culturais da época e a embarcação representa a essência do Brasil com toda sua miscelânea, inclusive de opressões. "Seria leviano contar a história desse personagem [Pedro] sem dar espaço e voz para todas essas outras expressões", reflete Bodanzky.

Texto: Taiani Mendes
Foto: Frederico Arruda

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