A ASSEMBLEIA – BRASIL: A HORA DA ESCUTA DEBATE REPRESENTADO NA TELA GANHOU CONTINUAÇÃO NA SALA DE CINEMA AO FIM DA SESSÃO
Os debates da Première Brasil começaram de maneira diferente nesta quarta-feira (12), após a exibição de A Assembleia – Brasil. Seguindo a proposta do filme, Beatriz Sayad – que assina a direção com Heloisa Passos e Juliana Jardim –, sugeriu ao público presente no Cine Odeon que a discussão iniciada na tela continuasse ali, com a participação dos interessados. Enquanto os espectadores iam se habituando à ideia, a realizadora comentou sobre os bastidores da produção.
Ela contou que a escolha dos quatro participantes foi fruto de um processo de entrevistas que envolveu Alex Ivanovici e Brett Watson, canadenses que criaram, em 2017, esse formato de discussão entre pessoas de posições políticas opostas. Segundo Beatriz, eles chegaram a pensar em ter dois homens e duas mulheres, mas acabaram optando pela configuração que se mostrou mais interessante, já que o espetáculo não daria conta da representatividade de qualquer forma. “A ideia não é fazer uma mesa completa, nem politicamente correta, nem nada”, explicou.
“Que tema sensível você gostaria de ver discutido no Brasil numa mesa com quatro participantes com opiniões diferentes?”. De acordo com Beatriz, esse era um apontamento dos criadores do projeto, que não acompanharam a versão brasileira presencialmente por conta da pandemia. “Acho que a ideia deles ao lançarem o dispositivo pra outros países e outras realidades é escutar como isso reverbera ali”, ela afirmou, lembrando do questionamento do próprio dispositivo feito por um dos participantes, que acabou incorporado ao roteiro.
Presente na sessão, Alex Ivanovici disse que a experiência já foi reproduzida na Alemanha, na Lituânia e nos Estados Unidos, e que a proposta é juntar gente para falar sobre poder, posicionando lado a lado, comendo juntas, pessoas que se detestam. Citando o teatro e o cinema como dispositivos de paciência e escuta que estimulam a reflexão, ele afirmou crer que todos os cidadãos deveriam se tornar um pouco artistas – pensando e repensando antes de responder – quando o discurso político fica violento.
O ator Kadu Garcia mencionou que a tela do cinema ampliou muito seu incômodo com o personagem que representa e falou da conexão com o “invisível” como estratégia para não cair na imitação do que foi registrado pelas câmeras no jantar original, que durou cerca de cinco horas. Eucir de Souza, outro integrante do elenco, comentou que assistir à gravação da conversa mudou sua forma de ver a política e o mundo, pois não ocorreu qualquer desrespeito, agressão ou superioridade, apesar das discordâncias.
Mais confortável com o passar do tempo, o público acabou comprando a sugestão do debate horizontal e levantando pautas como a validade do conflito e da violência; os limites e o respeito ao dispositivo; e a (im)possibilidade do diálogo com pessoas de crenças políticas distantes. Quase um A Assembleia - Cine Odeon.
Texto: Taiani Mendes
Foto: Francisco Ferraz
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