Publicado em 14/12/2019

A mostra Première Brasil: Novos Rumos exibiu nesta sexta-feira, 13/12/19, o longa-metragem ficcional "30 anos blues", seguido por um debate com os diretores Andradina Azevedo e Dida Andrade, mediado por Daniel Schenker. O filme aborda os blues (expressão idiomática derivada do inglês indicativa de tristeza, crise) de dois personagens – André e Diego – na casa dos 30 anos, rodeando, de modo geral, um dilema na busca por estabilidade – tanto financeira, quanto amorosa.

O mediador inicia a conversa comentando tal busca pelo estável, que parece ser a principal problemática em 30 anos blues; ou melhor, questiona em que medida a procura por estabilidade localiza-se entre um desejo genuíno e uma imposição social sobre as personagens. Acrescenta indagando aos realizadores se os mesmos observam uma dificuldade social em assumir-se uma postura saudosista.

 Andradina prontamente coloca-se como uma pessoa saudosista e informa sua predileção por músicas antigas. Disserta sobre uma nostalgia vivida aos 30 anos proveniente de uma ruptura entre aquilo que visavam se tornar aos 20 anos de idade e a realidade presente. O filme toca numa melancolia dos relacionamentos afetivos desenvolvida também pelo diretor.

Daniel questiona o uso dos próprios nomes de Andradina e Dida em 30 anos blues. Andradina informa que já no primeiro filme dirigido com o amigo (A bruta flor do querer) optaram por utilizar seus nomes, visando relacionar os personagens com alguma veracidade do mundo real. Confessa atualmente não gostar tanto deste uso, uma vez que acredita potencializar no público uma compreensão em que personagem e ator se confundem.

O mediador provoca, emendando duas perguntas: primeiro, se a angústia dos personagens é a mesma dos realizadores; e segundo, até que ponto o acúmulo de funções deve-se às circunstâncias econômicas ou a uma necessidade de controle do processo criativo. Dida nota – apesar de haver uma série de trabalhos intransferíveis em 30 anos blues – uma necessidade de expandir a equipe de colaboradores: "o acúmulo de funções também é muito contraproducente", complementa. Sobre a primeira questão, resume: "é uma angústia nossa compartilhada".

Encerrando, Daniel Schenker interroga em que medida os diretores ambicionam reduzir o divórcio entre cinema de autor e cinema de mercado no Brasil. Dida relata o desejo de superar a dicotomia em questão e aponta possibilidades, como no caso d'A bruta flor do querer: embora tenha feito pouca bilheteria (cerca de 3.000 espectadores), alguns canais de televisão já demonstraram interesse em exibir o primeiro longa da dupla. Andradina acrescenta: "nosso grande desafio – se pudermos sonhar alto – é fazer isso [produzir conteúdo audiovisual] para a massa mesmo".

Por: Mariana Ísis

Foto: Luiza Grün




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