A trajetória de uma pioneira O público lotou o Odeon nesta quarta para prestigiar o Cine Encontro dedicado a Nise – o coração da loucura, que fala sobre o trabalho da famosa psiquiatra
Questionado pelo mediador, o jornalista Luiz Carlos Merten, sobre a gênese do projeto, o diretor Roberto Berliner lembrou que o filme levou treze anos para ser concluído, definindo esse período como “um longo processo de maturação”. O realizador informou que a ideia inicial partiu do escritor Bernardo Horta, autor de Nise − arqueóloga dos mares, que conviveu com a psiquiatra nos doze últimos anos da vida dela, sempre anotando tudo que ela dizia. “Ela teve uma vida muito intensa. Para nós que conhecemos a Dra. Nise, este é um momento muito emocionante, ela está aí na tela”, declarou, apoiado pelo irmão, André Horta, diretor de fotografia do filme.
Ainda sobre a pluralidade de eventos marcantes na vida da médica, todos dignos de serem levados ao cinema, falaram a roteirista Flávia Castro e o produtor Rodrigo Letier, ambos sublinhando o desafio de encontrar um recorte para a narrativa, já que a trajetória da retratada suplantava muito as possibilidades de um único longa-metragem. Protagonista da obra, a atriz Glória Pires comentou a importância dos empreendimentos realizados por aquela mulher pioneira, principalmente no que diz respeito ao seu trabalho relacionado à arteterapia: “Ela era como uma mentora das artes aqui no Rio de Janeiro, uma personalidade cativante e surpreendente, que desenvolveu algo genial”, elogiou. A atriz explicou ainda que foi vivamente encorajada pelo marido, o cantor Orlando Morais, que havia lido o roteiro, a fazer o filme.
A esse respeito falaram ainda os atores Simone Mazzer e Roney Villela, que interpretam dois pacientes (ou como a médica preferia chamá-los, clientes) do hospital psiquiátrico: “Ficamos praticamente internados durante três meses”, lembrou Mazzer. “Era difícil voltar para casa e dormir, olhar as pessoas da mesma forma. No segundo dia eu decidi que nunca mais na vida iria reclamar de nada”, disse a intérprete de Adelina. Já Villela contou que o desafio maior era encontrar o tom do seu personagem, Lúcio: “Eu queria que fosse crível, que a loucura viesse de dentro para fora e transbordasse naturalmente, e não apenas de forma técnica”, explicou, se dizendo inteiramente transformado pela experiência.
Na plateia, era visível a emoção daqueles que conheceram Nise, seus “ex-clientes” e algumas pessoas portadoras de transtornos mentais, que afirmaram se sentir representadas pela obra. Não faltaram depoimentos comovidos.
Texto: Maria Caú
Fotos: Lariza Lima
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