Entrevista: Shin Su-won, diretora de Madonna A cineasta fala sobre as inspirações para seu filme e sobre os percalços de fazer cinema na Coreia
De passagem pelo Pavilhão do Festival do Rio, Su-won conversou conosco e falou um pouco sobre Madonna. A diretora também vai estar logo mais, às 21h no Espaço NET Botafogo 1 apresentando o seu filme.
De onde surgiu a ideia de filmar essa história?
Um amigo meu, que trabalha em um hospital, comentou sobre um paciente que estava em estado vegetativo por um longo tempo. Havia uma certeza de que ele não iria acordar e discutíamos qual seria o sentido manter uma pessoa nessa condição. Nessa conversa, outro amigo comentou que a família desse paciente era muito rica. Nesse momento levantei a possibilidade de que talvez eles o mantivessem por lá por haver interesses financeiros familiares. A ideia surgiu basicamente daí, e eu tentei levantar se havia alguma questão legal por trás de situações como essa.
A personagem Hye-rim é colocada de frente a uma questão ética e humana no filme. Você acha que essas questões andam um pouco fora de moda no mundo atual?
Eu não sei como está a situação no Brasil, mas a Coréia do Sul está vivendo uma crise econômica muito forte. Nesse contexto o dinheiro adquire uma importância maior, influenciando fortemente as escolhas das pessoas. E muitas acabam fazendo escolhas duvidosas. Foi pensando nisso que acabei colocando a personagem Hye-rim diante desse dilema em relação à vida.
Como foi o processo de produção do filme?
Antes de Madonna fiz outro longa chamado Pluto. Foi uma produção de baixo orçamento. Quando começamos a pensar em fazer um novo filme, pensamos e discutimos que queríamos o mesmo esquema de orçamento. Mas o roteiro de Madonna não era uma coisa fácil, e resolvemos pedir mais investimento. Eu tive sorte porque muitos investidores gostaram de Pluto, e aceitaram colocar mais dinheiro na nova produção. Consegui 7 milhões de Won [moeda sul-coreana] juntando as verbas dos produtores, distribuidores e investidores que estavam apostando no meu trabalho. Mas ainda assim não foi uma produção com muito espaço para gastos. Por isso diminuí os dias de filmagem e fiz um contrato com os atores no qual ficava combinado a divisão dos lucros. Foi uma forma de dar a eles uma garantia mínima, já que não teríamos como pagá-los pela forma habitual.
Foram 24 dias de filmagem e cinco meses de produção. O nosso maior problema foi o hospital. Não tínhamos verba para alugar uma sala em um hospital privado. Então alugamos um quarto de hotel e todo o equipamento hospitalar. Foi uma logística bem difícil.
Como tem sido produzir cinema na Coréia do Sul?
O cinema coreano está cada vez mais comercial. Tem sido cada vez mais difícil fazer filmes críticos ou de arte. As salas para exibição estão cada vez mais difíceis de serem encontradas. A gente precisa competir com o cinema comercial coreano, que é mais embasado na comédia, e com os blockbusters hollywoodianos. Nesse contexto o financiamento governamental tem sido de suma importância, porque ajuda na produção de filmes que fujam desses nichos. Nós temos nos mobilizado e discutido uma saída para isso para tentar evitar a morte do cinema coreano. O meu primeiro filme (Passerby#3) aborda essa situação. Falamos sobre a tentativa de achar um espaço na Coréia para os filmes de arte e para o cinema crítico.
Por Fernando Flack
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